Gestão pública, protagonismo juvenil e as eleições de outubro

A cada dia estamos a superar, na gestão pública, a ideia equivocada de que juventude é um problema social. Olhar a juventude como um propenso delinquente juvenil é estigmatizar um contingente significativo de pessoas, sem levar em conta o papel estratégico que os jovens podem assumir no processo de  desenvolvimento de qualquer país.

 

De acordo com o último censo demográfico, o Brasil tem mais de 51 milhões de brasileiros que estão na faixa etária de 15 a 29 anos de idade. No Tocantins, a população jovem é de mais de trezentas e noventa mil pessoas, o que significa quase 28,6% de toda a população do estado.

 

É fundamental mencionar que a mudança no olhar dos gestores públicos, ainda em curso, não foi feita de graça. Ela é fruto da luta de milhares de jovens que intensificaram o diálogo na sociedade, em particular nos movimentos juvenis, buscando o reconhecimento  e a interface entre políticas públicas e as questões geracionais. De forma simultânea, esta mesma estratégia foi utilizada nos espaços de negociação com o Estado, principalmente na esfera federal, reivindicando a incorporação de suas especificidades na agenda pública.

 

O resultado de tanta luta veio com avanços no ordenamento jurídico brasileiro, principalmente com a entrada em vigor do Estatuto da Juventude, lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013. Agora o Estado brasileiro começa a ter a obrigação de implementar políticas públicas específicas para os jovens, considerando sua condição juvenil. No entanto, esses avanços ainda são frágeis e sua implementação depende da capacidade de mobilização e interferência no arranjo institucional e político em cada estado da federação.

 

No Tocantins está agenda caminha a passos lentos. Temos um arranjo institucional frágil, fragmentado e na maioria das vezes acontece uma  superposição das políticas de juventude quase sempre pensada sem a participação desta que é a destinatária da política.  Uma superintendência vinculada à Secretaria de Educação, sem autonomia financeira.

 

O resultado não poderia ser outro, políticas públicas setoriais, sem continuidade, e, por conseguinte, sem efetividade. Logo, não aproveitamos todo o potencial de nossos jovens tocantinenses. Na educação por exemplo, temos notas, segundo o IDEB (Índice de Desenvolvimento de Educação básica), aquém daquilo que é projetado. Em 2015, o Estado projetou uma nota de 4.0 para a 3ª série do Ensino Médio, mas só alcançou 3.4.

 

 

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De modo que, ainda continua como desafio dos gestores públicos, a construção de uma agenda robusta e transversal que vise promoção social com geração de oportunidades e desenvolvimento para os jovens tocantinenses. Continua atual e necessário ampliar as políticas que visem a juventude, o acesso e a permanência em uma escola de qualidade; a erradicação do analfabetismo juvenil;  a geração de trabalho e renda; a promoção de uma vida saudável; a democratização  ao acesso ao esporte, ao lazer, à cultura e à tecnologia da informação; estímulo a cidadania e a participação social; melhorias a qualidade de vida no meio rural e nas comunidades tradicionais.

 

 

O que está faltando? Muita coisa, sobretudo gestores públicos de fato comprometidos com as demandas juvenis. Mas como mudar esta realidade? Só com engajamento político dos próprios jovens, com vista a fortalecer a narrativa de que o jovem precisa ser considerado um ator político fundamental para o desenvolvimento do Tocantins no tempo presente.  Ele não é o futuro e suas necessidades precisam ser supridas agora. Perdi a conta de quantos jovens falaram comigo recentemente que precisam trabalhar e continuar os seus estudos.

 

Ocorre que este mesmo jovem que demanda por políticas públicas está desestimulado e se abster desta luta é o caminho mais fácil. Participar exige a compreensão de que não existe direito adquirido sem luta, e luta é sinônimo de sacrifício. Façamos um esforço, ainda que estejamos cansados, de escolher nestas eleições de 2018, candidatos comprometidos com os jovens, numa perspectiva emancipadora e não de dependência.

 

É preciso dizer aos ditos líderes da política tocantinense, que os jovens não são massa de manobra. Pelo contrário, os mais de 300 mil jovens tocantinenses, se assim desejarem, podem mudar o curso da política no Tocantins e gerar oportunidade a milhares de pessoas que precisam ter a sua dignidade reconhecida. E nesta perspectiva, somente nesta, que eu defendo a rebeldia juvenil. Para que os jovens lutem e não aceitem ser tratados como uma boiada que pode ser conduzida a qualquer lugar. Sejamos protagonistas da nossa própria vida e que os ventos de outubro nos tragam boas esperanças.

 

Gleidy Braga

Jornalista e Advogada

Pré-candidata a Deputada Estadual