O filósofo Luiz Felipe Pondé identifica a falta de compreensão histórica do liberalismo como causa da imaturidade do pensamento liberal brasileiro e mostra como o liberal utópico peca em não dar atenção à moral e à imperfeição humanas. Confira trechos:
“A têmpera liberal transita da economia à política, passando pelo essencial terreno moral. A moral, normalmente, é esquecida pelos afoitos liberais de mercado entre nós. E por moral aqui não me refiro ao ato de “cagar regra”, mas de refletir acerca dos impasses e dos dramas da liberdade e do caráter. “
“Parte da imaturidade do pensamento liberal entre nós é a falta de compreensão histórica de como essa escola se constituiu. Farei uso da definição do historiador britânico Tony Judt (1948-2010), em si, um social-democrata europeu: “Um intelectual liberal é alguém atraído pela imperfeição”. Neste sentido, alguém que deveria ser, por definição, um antiutópico.”
“Ninguém suporta “ser livre” o tempo todo. Ninguém reinventa os modos de vida o tempo todo. Ninguém vive a autonomia de Mill na vida real. Ninguém “debate ideias” o tempo todo. Estamos mais próximos de tomar ansiolíticos. Tampouco a utopia de Von Mises de um “mercado puro” resiste à realidade imperfeita do homem. Enfim, o homem de Mill e o homem de Von Mises são quase tão utópicos quanto o de Marx.”
“Por outro lado, não existem “valores indivisíveis”. A liberdade não é “uma coisa” que você encontra andando em Wall Street. Nem a liberdade econômica ou o mercado são valores absolutos a partir dos quais se deduz as outras realidades da vida.
“Mas, isso não significa que o Estado brasileiro não seja enorme e ineficiente. Entretanto, isso não apaga o fato de que nossa elite econômica enriqueceu graças a esse Estado paquidérmico. A elite brasileira nunca foi liberal, mas sim mesquinha.”
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Luiz Felipe Pondé, Filósofo e colunista